Antes que acabe abril quero falar de coragem.
Quero coragem para falar de coragem.
Quero falar de distância.
Quero coragem pra falar de distância antes que este abril se vá.
Coragem. Nada de óculos novos, nem de se abrir os olhos. Apenas coragem.
A coragem necessária para chegar bem perto e ver aquilo que não se quer ver.
Coragem para ver, mas também para deixar-se ver.
A distância imposta por nós mesmos uns aos outros é um reflexo da inútil defesa de não nos expormos para não sentirmos qualquer dor. (Mas sentir não é o que nos faz mais humanos?)
Uma distância que não é medida em quilômetros. Isso porque essa distância é ilógica, negativa. Sentida, não medida. Por falta, não por excesso.
Distância não pelo corpo ausente, pelo ausência do olhar clarividente, pela efêmera, agora inerte, sensação de presença.
Distância sentida onde falta a alma, na ausência da calma, um espaço vazio. No que não é generoso, no que não tem gosto, naquilo que não permitimos nos tocar.
No silêncio em meio a multidão.
Essa é a distância que importa entre as pessoas.
Porque perto e longe são advérbios que não fazem o menor sentido na linguagem sentida.
Palavras não representam sentimentos.
Não lhes dão profundidade, não os fazem sinceros.
Essa distância cria e enfeita altares.
Lugares onde não temos vida.
Desenlaça chances de laços e que dá vida apenas a um abraço: o dos braços da solidão.
Tom dita um segredo que nós muito sabemos: é impossível ser feliz sozinho.
Então...
Antes que acabe abril tenhamos coragem. Desfaçamos altares. Enlacemo-nos em laços, abraços. De gente de verdade, de gente que tem coragem.
Vida nova se refaz conhecendo-se novas vidas.
Conhecer é ver, pela coragem de chegar tão perto, quem realmente somos.
Demos a nós mesmos o melhor presente: o outro, no outro, com o outro.
E, antes que acabe abril... sejamos felizes nos instantes em que nos permitirmos, corajosamente, ver o outro em nós mesmos.
Não prometo que a dor se acabe, mas se o medo fugir, já estaremos no lucro! ;)